segunda-feira, 31 de maio de 2010

O Outro

O Porquê de uma vida passada sobre o sentido das coisas, não sabia. Se a morte são as expectativas por trás dos séculos, também não sabia! Mas agenda marcada para falar com o pai, diziam. O escolhido, tratado e curtido no barro da existência plana. Hora? Isso nunca! E repetia, vociferando consigo, baixinho. Domingo era outro dia para conversar. Outro dia! Pensava. Isso deveria ser estar perto. Pronto! Todo dia era dia...

Anárquico o malandro; Mas onde moravam os anjos? Hospital vivia de acidente, e além da ausência natural dos acontecimentos, uru cava o resto e excitava a turba. Um bosta de gente! A opção, as escolhas. Ninguém encostara um revólver para reinvidicar ulterior história. Rumo decidido! Um ponto distante. Um estorvo! Um escravo...! De si, daquele, de ninguém.

Era o cobrador da própria honra. O motorista míope. Longos e intermináveis minutos escondidos na alcova das idéias. Ninguém duvidava. Era ansioso. Tanto quanto teimoso! E burro, porque carta queimada “num” guarda segredo. E ali é onde se esconde ouro.

Envolvera-se com uma dessas mulherezinhas pequenas. Tinha estatura e QI de caramujo. Era tal de “nós vai”, seguido de excessivos erros de Português, algumas palavras difíceis e bisonhos remendos. Até a lingüística jazia surda no coração da moça.

E naquela noite fora arrogante, o cara. Muito! Muito! Cuspia palavras de brasa, arregalava olhos de cramulhão. Mas sabia muito pouco dela, e isso muda tudo.

Enquanto batia a última pinga de cinza, já quase um defunto ao ser atingido por um cinzeiro em movimento, tentou falar, mas só ouviu. Vá com Deus porque nem o capeta te agüenta! Estafermo, ainda pensou, egoísta!

Dá mole que “o coisa” ruim come teu rabo. Gritava a outra! Voa, voa... Por um momento fizera parte da revoada... Até pousar o asfalto, com os olhos ainda abertos...

quinta-feira, 27 de maio de 2010

foto NANDA SCARPA
Mãe Linda // Mãe Linda nasceu perto do mar. Tinha os olhos da mãe de todas. Um verde azulado que sorriam quase fechando, e dava bom dia, porque todo dia era bom! Diziam na região, que quando olhou o lago pela primeira vez, o barro arriou e tudo a volta ficou transparente. Mas era do outro lado da península que fizera casa. Perto do mar, na frente dele. Vivia de branco e laranja. Traços finos e nariz arrebitado. Era de Oxum, mas nadava nas águas de Iemanjá! Para os homens da região, escultura intocada e benção divina. Lágrima derramada de uma áfrica generosa; Chororô de filho velho que pendia de colo e aconchego. E eram muitos... De todas as cores e credos. Até beata se curvava quando Mãe Linda Passava... E cumprimentava a realeza, de uma terra que não caminhava, a beata feia e enrugada, de timbre estridente. Senhorinha que falava arredondando o “R”, em nome de um Cristo que só existia na cabeça dela, diluído em bíblias traduzidas e tecido adiposo. Jesus, o homem. Cristo, o Deus. O homem de Deus nunca renegaria a boa fé. Viesse de torres ou terreiros! Isso dizia Mãe Linda. A beata que temia Deus e por isso se ajoelhava, cumprimentava. Por respeito, ou medo, dos céus, ou lá do que. Naquelas bandas não se criava quem entortasse o tempo quando ela passasse. E era linda, uma alegoria intocada, empurrando o vento, limpando o céu enuviado de cabeça torta. Estrelando o negrume do tempo que nunca era feio. A terra precisa beber... Dizia... Água de esmeralda, quando batia no sal. E era tudo o que se via... E quando a noite acalma, e Oxum sussurra brisa, é porque tá guardando a luz alaranjada de sol atrás das nuvens, como criança com boneca. Que acorda com riso de que a vida continua... Busco um pai num céu de estrelas // pra justificar meu desamparo // uma aresta ou um aro // que me dê a sensação de colo // que minha mãe me dava // quando voltava pra casa // Ah! Ah! // quando voltava pra casa... E puxavam o arrastão, com calo de pescador... Um negro entoava o que a massa repetia. Louva a mãe, a pesca vem. E o Pai que com ela conversava... Rezavam em silêncio, e eram todas as esposas daquele lugar. E puxa, puxa... A rede tem que ser recolhida antes da maré subir... Nunca soube ao certo aonde era. Nunca! Um sonho quase difícil de não parecer verdade... Quando a vi pela última vez, acordei sem querer. O mesmo sorriso de sempre prenunciando um dia bom. Fosse todo, ou somente uma parte dele, seria. Com cheiro de café e dentes de giz, que o mesmo melhor amigo me disse. - Olha as flores! É minha mãe! E todas que acalentam o sono, e a criança da criança que adormece durante a calmaria de um oceano inteiro. O velho que deixava de ser pai e tava longe. E o outro cantado, com palavras de mãe... Antes de dormir pedirei por empréstimo os raios dourados de Oxum e um sono silencioso. Se não for demais, um espelho cristalino, tão grande, mas, tão grande, que suas mãos entornarão ondas suficientes para inundar o sonho de nunca mais acordar, desacompanhado de paz... 8

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Atendendo a pedidos... E por vezes me pergunto a quem pertenço. Não me isento do fato de que a princípio possa estar falando de mim! No entanto tudo leva a crer que em algum momento grande nos perdemos disso tudo. Explico: um mínimo de consciência. Acabamos por fim redirecionando o leme para outros cantos... Talvez o comportamento coletivo; social; ou a busca da sagrada epopéia cívica: casa, família, trabalho (ou renda!). É! Passamos à vida crendo em artifícios divinos sem quase sempre pensar e respeitar o próximo... E é claro que em algum lugar chove novamente... Agora quase todos os dias! Lembra-se de Blade Runner?...!... E da teoria de Gaya? Da esfera lavando a terra e cuspindo engravatados, molambentos, analfabetos e doutores cheios de dente branco. O mesmo ponto! Ou fim? Tudo sobre o mesmo plano espacial. Endereços? Confins do mundo, rua primeira de todas... Que é perto lá de casa! Somos de uma natureza egoísta mesmo. Gostaria de ser vários e estar simultaneamente em todos os lugares para gritar, rugir; ou permanecer em movimentos cadenciados, carregando sacos e reunindo roupas. Esforço humano... Ou humanização... Amanhã também poderei estar nadando em água suja e talvez alguém que seja muitos ao mesmo tempo possa me socorrer... Torno a repetir... A razão maior dos nossos dias não seria se desprender para ter mais tempo para focar as necessidades alheias... Quando distribuírem as possibilidades muita coisa há de mudar senhores...

domingo, 23 de maio de 2010

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Ouvira certa vez de um porteiro do Piauí chamado Raimundo, que na época de seu avô riqueza se media na moringa que carregava água. Se fosse espessa era de rico. Uma a cada dez não se partiam nas olarias. Moringa de pobre era fina e quebrava a toa. Se, descansava na forquilha, e não tinha móvel então, dinheiro também não possuía... O líquido e sua transparência eram menos importantes que o barro adornado. Como poderia se lama não mata a sede (!)? Parecia estranha a inversão dos fatos...

sábado, 22 de maio de 2010

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Navio Negreiro

E pensar que o comércio de escravos teve sua origem na África... Ao que consta, mais precisamente no Benin. Era a tentativa de pertencer ao comércio internacional e alcançar outras esferas de negócio. Tribos conquistadas sendo diluídas pelos seus colonizadores de mesma cor. Depois, passados os portais que ligavam o piso até a areia, água salgada, e finalmente o porão dos navios... Já em terras portuguesas, eram misturados em alas para que perdessem suas idéias e dialetos, ou toda expressão originária... Esqueciam-se algozes, contudo, que o talento nato e humano para adaptação, ainda mais quando sob pressão, é de incomensurável poder. E isso é histórico! Acho que poderíamos chamar de traduções oficiais do que viria a ser uma nova perspectiva social, letrada e mapeada? Não somente cantada, como o correio informal de séculos anteriores... E a cultura negra reformulada nas senzalas, mesclada em todos os cantos deste país, prenunciava suas raízes para todo o sempre, no esqueleto da memória nacional... Enquanto isso, Pierre Verger, o francês de alma baiana, que se autodenominava etnólogo e muito tempo depois trocariam a sua velha Paris pela África e, mais tarde ainda, em definitivo, o mundo por Salvador. Tornar-se-ia um Fatumbi; o que na tradução literal significa renascido através do Ifá. O jogo das previsões...

Rapidamente sobre Ifá; reza a lenda que era feiticeiro e irmão de Alá, eternamente venerado nos desertos e países Árabes.

Percebendo certa falta de identificação com a rapaziada barbada, bateu perna até chegar a território africano, onde fora muito bem recebido. Em agradecimento, ensinava o jogo das previsões, que tinha o seu nome, e colo certo... Cada burgo tinha um Fatumbi...

Era interessante, porque já naqueles tempos, objetos e mensagens eram enviados através de Verger. Cada vez que anunciada era uma nova partida. E aquela troca, quando identificada em outro continente, traduzia a prova e veracidade dos fatos contados, da existência dos parentes perdidos, e da certeza longe, que se juntava.

Depois de dias e meses... Mares... Adentro. A partir dele, souberam muitos dos seus!... Muitos anos depois. E num pensamento maior, isso era suficiente...

E registrava na sua velha máquina fotográfica analógica, o que muitos hoje consideram um dos primeiros registros visuais do que viria a ser a cultura do candomblé.

Mas... Outra surpreendente curiosidade que nos remete ao início desta historieta, é que, os que por sua vez se intitulam Tatás, na África, são descendentes diretos de traficantes de escravos. Agora, com nova e pomposa titulação. Propagadores da cultura (?)!

E calcula-se em mais de cinco milhões o número de negros que aportaram contra a própria vontade em territórios luso-brasileiros... Louvo agora aqueles que ficaram ao longo. Um sem número que nunca nessa vida poderemos precisar...

Outro dado curioso é que muitos creditam a Capiba, Verger e Jorge Amado, boa parte da projeção do que viria a ser um frenesi internacional em torno da Bahia de todos os santos. Que me perdoe S. Dorival, mas das tríades baianas, talvez esta fosse munida de particular singularidade. Isso por, além de tudo, tratar-se de um argentino, um francês e um brasileiro.

Tudo bem que Jorge Amado Jamais fora um só, e Santo Amaro da Purificação pariu boa parte da nata. Além é claro, da própria capital. Mas que o poder desta terrinha em repatriar sua gente e redescobri-la, nos confins do mundo afora, só pode ser... Divino! Acredito nisso... Você eu não sei, mas eu...