quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Sobre a existência, a única que conheço é a minha. Não por opção; ao contrário! Pela total ausência dela! Porque sobre oceanos e profundidades sabemos pouco, muito pouco mesmo. Isso se dimensionarmos e percebermos que não há silêncio (!) onde oco, além dos músculos e camadas, mora indivisível, alma. Porque só sono “100” sonho para distrair as horas no breu dos acontecimentos inconscientes; ou cala
r os “afazeres” e o relógio temporariamente que seja. Depois a rotina surda de tomar café e bater o ponto. Todo dia, todo dia, todo dia, todo... Mas compensar o resto para que a vida reinvente sua expressão em arte, também é interessante. De tal forma, tão visceralmente; que até no mero ato de abrir os olhos, permaneçam calmas as planícies do reflexo. E um ponto de solidão inerte justifique a paisagem e não mais adjetivos turvos, interpretações (inevitáveis) errôneas. Disse-me um conhecedor das coisas que ser feliz ou triste dá trabalho e engorda as extremidades. Vale o susto? Então gastar raciocínio indevido, no mote que te pertence: leitura, yoga e tudo que possa refazer a grama, asfaltada debaixo dos pés.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012



... Pensaram toda a vida que renegar a memória do holocausto seria renunciar a qualquer tentativa de convivência e o esquecimento... Gera esquecimento... E repetição. Tem que lembrar sim! Mas fico confuso quanto à interpretação da massa. Não falo de mentes isoladas, mas do acumulo delas subdivididas por sua vez. Mas comecei falando sobre a lança. Aquela que levou Jesus a outro plano. Considerar-se-á quem sabe uma chave. Objeto cortante que parira de vez a narrativa católica! Último sopro daquele que nunca fora ladrão e morrera como um Deus... E havemos de convir: calara o verbo. E olha, ao correr dos anos, a festa q fazem com o discurso do homem... Fez um caminho e um escarcéu de sinceridade tão grande, q justificaria sem palavras todas as traduções do silêncio... Compreendo o Santo Sudário. O pano que limpa o rosto que sangra... A cruz perpetuada como a “última morada” nesse aqui de terra... Mas a lâmina que perfurara a carne. Dele que somos todos nós! Confesso que isso me confunde... E por vezes até incomoda...

sábado, 18 de agosto de 2012


21

  • Vida de Passarinho


O que move um homem pensava. Trabalho, casa, família. Dentro de todos os preceitos o que restava bem verdade eram contas e um azedume incomensurável. A última vez que abordado numa dura da Polícia Militar perguntaram sobre drogas a resposta foi direta: Tá me esperando em casa doutor! Promessa de altar. Tinha somente uma filha estranha, apesar de achar a cabocla linda. A esposa não envelhecia. Cadela! Ou era ele que estava muito fora de forma. Achava um porre fazer média e sorrir amarelo para sogros velhinhos com odores da terceira idade. A tal colônia nem em brechó, falido de falência, se encontrava mais. Protelava o velho, há anos, o término do frasco. Embebia a pele com um passado que não voltava e por estranho motivo remetia o cheiro às... Rugas. Pele retorcida pelo tempo, abarrotada, células mortas. Embalagens descartáveis  pensava! Que povinho mala! Era coerente, mas estava de saco cheio. Mesmo! Explodindo! Pela primeira vez em décadas libertava o monstro alimentado...

O vidro acabou na goela do velho que perdera os dentes e enfartara no meio do percurso. A pobre esposa catatônica rezava em silêncio um Pai Nosso que não terminou. Atingida por um samovar russo alcançara o chão com a brevidade de um corpo esguio em declínio. – Velharia que vai outra que cai. Repetiu três vezes. A filha gargalhava no auge de um surto da onde jamais retornaria. Seria internada por um contra parente bacana cujo nome não poderia ser identificado.

 E o cara, ainda embebido de sangue quente, algemado em flagrante pescava tranqüilo. Quando anos depois um repórter da rádio estatal perguntara o porquê daquilo tudo, respondera sem mexer as sobrancelhas que os anos foram generosos e o tempo honrava cada mote de trezentos e sessenta e cinco dias, para que compreendido pudesse ser. A primavera cuspia flores e não outros nomes. Não haveria herdeiros de fé para ensolarar qualquer sombra de arrependimento. Era livre: se nascera para viver todos os dias iguais, deveria então ser um passarinho e de resto, à gaiola que a ele caberia.

O gaiato era sincero. Repetiu isso novamente três vezes e voltara para a aula de teologia do presídio com nome de governador. Estudava agora a palavra. Não mais moveria suas mãos. Ia ler até cansar e esquecer o cheiro daquele perfume velho.


 
  • O Outro

O Porquê de uma vida passada sobre o sentido das coisas, não sabia. Se a morte são as expectativas por trás dos séculos, também não sabia! Mas agenda marcada para falar com o pai, diziam. O escolhido, tratado e curtido no barro da existência plana. Hora? Isso nunca! E repetia, vociferando consigo, baixinho. Domingo era outro dia para conversar. Outro dia! Pensava. Isso deveria ser estar perto. Pronto! Todo dia era dia...

Anárquico o malandro; Mas onde moravam os anjos? Hospital vivia de acidente, e além da ausência natural dos acontecimentos, uru cava o resto e excitava a turba. Um bosta de gente! A opção, as escolhas. Ninguém encostara um revólver para reinvidicar ulterior história. Rumo decidido! Um ponto distante. Um estorvo! Um escravo...! De si, daquele, de ninguém.

Era o cobrador da própria honra. O motorista míope. Longos e intermináveis minutos escondidos na alcova das idéias. Ninguém duvidava. Era ansioso. Tanto quanto teimoso! E burro, porque carta queimada “num” guarda segredo. E ali é onde se esconde ouro.

Envolvera-se com uma dessas mulherezinhas pequenas. Tinha estatura e QI de caramujo. Era tal de “nós vai”, seguido de excessivos erros de Português, algumas palavras difíceis e bisonhos remendos. Até a lingüística jazia surda no coração da moça.

E naquela noite fora arrogante, o cara. Muito! Muito! Cuspia palavras de brasa, arregalava olhos de cramulhão. Mas sabia muito pouco dela, e isso muda tudo. 

Enquanto batia a última pinga de cinza, já quase um defunto ao ser atingido por um cinzeiro em movimento, tentou falar, mas só ouviu. Vá com Deus porque nem o capeta te agüenta! Estafermo, ainda pensou, egoísta!

Dá mole que “o coisa” ruim come teu rabo. Gritava a outra! Voa, voa... Por um momento fizera parte da revoada... Até pousar o asfalto, com os olhos ainda abertos...