sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Photoshop

Ah! A tecnologia. Pensei noutro dia como eram deliciosas as antigas revistas que expunham fotografias de mulheres sem roupa.

Não havia recursos, mas defeitos. Eram mu-lhe-res nuas, não bonecas. Defeitos de fabricação necessários para tornar a imagem real, e saborosa. Era o chumaço da cicrana, a gordurinha da outra, ou peitos descompassados e que valem o preço. Realidade! Pagava-se a real, pelo real; elas por eles. Aquilo que se via, por mais que batidos fossem os truques: levanta os braços pra não ter avalanche, ou morde os lábios que herpes em boca pequena não dá. Era a infidelidade visual, não a idealização do outro. O defeito contornava o resto, excitava, provocava o comentário e por aí vai.

E pensei na morena de Bukowski, que escrevia sobre ele mesmo, e pronunciava debruçado na mesa do bar, que nunca em toda vida contemplara tamanha beleza de mulher. Nunca! E assim foi uma noite inteira... Ouvira a criatura que, inusitadamente súbito rompante, crava as unhas vermelhas no rosto; enquanto rasgava a pele, perguntava: - e agora? Ainda sou a mais bonita? No capítulo seguinte, como em tantos outros, amanhecia o escritor que era ele mesmo, vomitando o resto do que não me lembro!

E no contorno do tema poderia citar a rainha do antigo Egito. Cleópatra! Em nome de uma vaidade real, cunhou seu rosto em moedas, sem saber, que no futuro, isso denunciaria uma feiúra ímpar, prognata, derrubando o mito do nariz arrebitado e traços finos. Achados arqueológicos confirmaram! Moedas que o tempo não corroeu!

Botero, pintor colombiano, se deleitou com suas gordinhas sul-americanas, que mais pareciam portuguesas do império. Enquanto a mexicana Frida Calo cultuava bigodes e tons de tinta. A beleza e suas cores, e seus erros, e... De repente pensei que o olhar afundado de Elvis e um rebolado viril, venderam mais que a própria voz.

Do jeito que a coisa anda, além de clones e silicones, o talento será uma questão próxima ao Botox ou similares. Até que uma diva, de talento, engula duas ou três atrizes da academia, e mostre outra ótica. Talvez a beleza maternal, suas falhas, seu desequilíbrio hormonal, mensal, controlado ou descontrolado, pela sofisticação de uma compreensão feminina. A profundidade do espírito que sangra e a falência planetária. Ou algum desavisado acha que efeito estufa, peleja, ou tráfico de gente, são realizações de quem pariu a vida?

Cantaria a elas... E a breve homenagem de um grande apreciador. Acho que Elvis concordaria, e com certeza, nunca soube dos recursos de um computador.