sexta-feira, 17 de maio de 2013


Vida de Passarinho //
O que move um homem pensava. Trabalho, casa, família. Dentro de todos os preceitos o que restava bem verdade eram contas e um azedume incomensurável. A última vez que abordado numa dura da Polícia Militar perguntaram sobre drogas a resposta foi direta: Tá me esperando em casa doutor! Promessa de altar. Tinha somente uma filha estranha, apesar de achar a cabocla linda. A esposa não envelhecia. Cadela! Ou era ele que estava muito fora de forma. Achava um porre fazer média e sorrir amarelo para sogros velhinhos com odores da terceira idade. A tal colônia nem em brechó, falido de falência,se encontrava mais. Protelava o velho, há anos, o término do frasco. Embebia a pele com um passado que não voltava e por estranho motivo remetia o cheiro às... Rugas. Pele retorcida pelo tempo, abarrotada, células mortas. Embalagens descartáveis pensava! Que povinho mala! Era coerente, mas estava de saco cheio. Mesmo! Explodindo! Pela primeira vez em décadas libertava o monstro alimentado...
O vidro acabou na goela do velho que perdera os dentes e enfartara no meio do percurso. A pobre esposa catatônica rezava em silêncio um Pai Nosso que não terminou. Atingida por um samovar russo alcançara o chão com a brevidade de um corpo esguio em declínio. – Velharia que vai outra que cai. Repetiu três vezes. A filha gargalhava no auge de um surto da onde jamais retornaria. Seria internada por um contra parente bacana cujo nome não poderia ser identificado.
E o cara, ainda embebido de sangue quente, algemado em flagrante pescava tranqüilo. Quando anos depois um repórter da rádio estatal perguntara o porquê daquilo tudo, respondera sem mexer as sobrancelhas que os anos foram generosos e o tempo honrava cada mote de trezentos e sessenta e cinco dias, para que compreendido pudesse ser. A primavera cuspia flores e não outros nomes. Não haveria herdeiros de fé para ensolarar qualquer sombra de arrependimento. Era livre: se nascera para viver todos os dias iguais, deveria então ser um passarinho e de resto, à gaiola que a ele caberia.
O gaiato era sincero. Repetiu isso novamente três vezes e voltara para a aula de teologia do presídio com nome de governador. Estudava agora a palavra. Não mais moveria suas mãos. Ia ler até cansar e esquecer o cheiro daquele perfume velho.
A poesia de Pedro não fala; canta.
Contemporiza, Exalta.
E é no bumbo q faz estrada.
Onde o chão é grave e a vida ecoa.
Mas a música,
Senhora teimosa,
De hiatos profundos
Parece curvar-se ao mundo
E pedir humilde...
Passagem;
Porque na poesia do moço
Do verso que canta,
Passarinho pede licença
E o texto rompe a regra.
Como quem perde o caminho
Para achar outra forma, ou fôrma.
Não tem paciência a ciência 100 par!
Era do nada, um nada de menos ainda? Só calmaria de vento abanando, página virada.
Sopro q não soa, canta...
Pano de pó letrado.
Poeira de rabisco...
Risco de poesia...
Com assinatura de nome de apóstolo
Que perdeu a cruz e moveu a espada
No cume da santa
Palavra inventada.//
Para o poeta P. Rocha//
...

A saúva //
A saúva que é viúva
exímia cortadeira //
Leva a horta do moço
E o almoço da abelha. //
Porque sem folha não tem flor
e sem flor não tem mel //
Dona abelha chateada
Dava voltas pelo céu. //
Também dizia o gafanhoto
Nada sobra para mim //
E mordia o pé canhoto
Do menino curumim. //
Dona formiga se perguntava:
porque ninguém fala comigo? //
Se não tenho sossego
também não tenho amigo! //
Afinal todos nós sabemos
não é mentira de macaco //
que conversa de formiga
é só trabalho, trabalho... E trabalho. //
Resolveu a insetada
procurar a cortadeira //
que se defendeu zangada
dando bronca na abelha. //
Aprendemos desde cedo
que o inverno é frio e rigoroso //
depois as chuvas de verão
e outro inverno de novo... //
Todavia com tudo isso,
aprendi uma lição //
Com amigos dividimos
a conversa, o chão... O pão. //
E a partir deste momento
esta decidido enfim //
vou buscar comida longe
E não tropeçar no curumim. //
Confrades ilustres,
há um “porém” que ninguém foge //
são os desejos de cada um
que fere e tanto comove. //
Hoje dividimos isso
depois aquilo, e aquilo outro //
Concordamos, discordamos,
É a natureza de todos. //
Por isso sugiro em gesto solene
E o peito cheio de alegria //
A palavra que faltava:
De –mo – cra – ci – a... //

....

Para Mario Quintana //
Eles passarão... Mario passarinho
E eu, quieto feito flor,
Cumprimentarei os dois
Na página da paisagem ...