sexta-feira, 20 de junho de 2014



O menino e o sonho xxxxxxx ... Fui dormir completamente bêbado. Felicidade alcoólica, à toa. Sono profundo. Sonhei com uma esquina cheia de guris. Era escuro e sem óculos não definia bem as fisionomias. Um deles ligeiro segue em minha direção. Completamente contraído, sem saber, armo a retaguarda. Vício de cidade grande, descontrolada mesmo, sabe! Esticou os braços e depois mostrou uma perna de tesoura presa a uma correntinha de latão: tira pra mim tio? Dizia. Quando por fim separadas a meia tesoura da corrente esticou um sorriso alvo de arcada impecável, perfeita, retornando... A roda onde o tudo começara... Tantas vezes pensei naquele menino e no que poderia tudo aquilo representar que perdi as contas até queimar o lápis. Tudo sugestionava algo; e o hábito antigo de reinterpretar sonhos me levavam a crer numa fronteira entre o subconsciente e outras aberturas. O que se poderia ou não atravessar sem culpa?... Quem julgaria o que dormindo não se controla... A perna única de uma tesoura sem ponta que se rompia da frágil corrente. O prisioneiro que de si desata o laço e se arremessa sem contar os metros? O que fotografamos com a alma e guardamos em tão profundos abismos? Porque nos lembramos daquilo que tanto deveríamos esquecer? Quem é o cobrador de Deus, que até a noite inconsciente invade? Contratai-vos senhores feudais do empresariado moderno ditado por regras de tributação. É um gênio!... Pensei ali onde estava Estamira e seu mundo de lixo? Gostaria de conhecê-la e pregar-lhe um abraço fétido de perfume. Num imenso depósito batizado de “lixão”, o que seriam odores de perfume? Qual a tradução de um frasco colorido naquele lugar, ou quantas pernas de tesoura haveriam por ali? Quem escondera a primavera (?) Ou seria o prenuncio das flores de plástico! Onde estava aquele menino dessa vez? Procurava e traduzia analfabeta e louca, o que minhas frases esquadrinhavam por toda a vida. Era a heroína do curta-metragem em que me achei traindo a pátria. Em casa, sem gritos e algazarra. Subtraindo a miséria pelo excesso de idéias, sem atitudes... Pensava que o termo inclusão social e o desordenado crescimento paralelo deveriam oficializar em definitivo nova nomeclatura. Exemplo: Quando não funcionar o elevador social, o condomínio orientá-lo-á ao seguinte... Ao de serviço... Ao anti-social, seja pela forma gramatical, ou pelos moradores que votam em surradas reuniões de proprietários... Pensei poder adornar uma possível tradução as Estamiras e suas dissidências. Se justo fosse o modelo não estariam ali. Talvez plantando árvores com lama suja que não é chorume. Optei por isso redirecionar a lente ocular para guardar aquilo que a memória alcançasse e que de fato, significativo fosse... Era a minha homenagem a este universo ... E abrir mão de certos supérfluos em nome de um particular protesto pacífico contra o igualitário fora da validade... Lembro quando pisei em Londres pela primeira vez e quase comprei uma jarra de cobre encontrada nos desertos do Paquistão. Agradeci por fazer uma foto. Troquei o objeto que me custaria caro pela vida cultural que era oferecida. Quando rezo e brindo com Deus, dali escorre o vinho. Carregaria isso ao longo da vida. Me esqueci de tanta gente... Daquela jarra de cobre jamais!... E do menino de sorriso alvo e pele escura, de arcada perfeita, que me pedia favores e não pertencia a nada... E uma Estamira que poderia ser promovida a adjetivo, uma jarra de lembranças bebidas, e a perna que faltava... Para finalmente sair correndo...

O culpado // Porém, precisava ter juízo o moço. Muita coisa não tem preço, não tem vitrines, esquinas, lavabos.E morrera muito velha e bem tratada aquela senhora. O que sobrara da sua humilde e significante existência agora caminhava sobre jardins não mais corredores. Sentia mas não podia ver nem cuidar. Pensara que pelo menos com ela sempre fizera o certo! Cada pedaço de tempo havia sido recompensado. Sequer pôde agradecer aquela que por décadas fora mãe todo dia. Desabara do salto dos seus poucos metros de existência física num dia comum, qualquer. Viera e fora dessa para melhor da mesma forma... Num dia qualquer, uma pessoa comum... Mas... A culpa não fora dele...
... Essa rapaziada foi vista no Parque Lage... Dá uma passada...RJ

O Outro // O Porquê de uma vida passada sobre o sentido das coisas, não sabia. Se a morte são as expectativas por trás dos séculos, também não sabia! Mas agenda marcada para falar com o pai, diziam. O escolhido, tratado e curtido no barro da existência plana. Hora? Isso nunca! E repetia, vociferando consigo, baixinho. Domingo era outro dia para conversar. Outro dia! Pensava. Isso deveria ser estar perto. Pronto! Todo dia era dia... Anárquico o malandro; Mas onde moravam os anjos? Hospital vivia de acidente, e além da ausência natural dos acontecimentos, uru cava o resto e excitava a turba. Um bosta de gente! A opção, as escolhas. Ninguém encostara um revólver para reinvidicar ulterior história. Rumo decidido! Um ponto distante. Um estorvo! Um escravo...! De si, daquele, de ninguém. Era o cobrador da própria honra. O motorista míope. Longos e intermináveis minutos escondidos na alcova das idéias. Ninguém duvidava. Era ansioso. Tanto quanto teimoso! E burro, porque carta queimada “num” guarda segredo. E ali é onde se esconde ouro. Envolvera-se com uma dessas mulherezinhas pequenas. Tinha estatura e QI de caramujo. Era tal de “nós vai”, seguido de excessivos erros de Português, algumas palavras difíceis e bisonhos remendos. Até a lingüística jazia surda no coração da moça. E naquela noite fora arrogante, o cara. Muito! Muito! Cuspia palavras de brasa, arregalava olhos de cramulhão. Mas sabia muito pouco dela, e isso muda tudo. Enquanto batia a última pinga de cinza, já quase um defunto ao ser atingido por um cinzeiro em movimento, tentou falar, mas só ouviu. Vá com Deus porque nem o capeta te agüenta! Estafermo, ainda pensou, egoísta! Dá mole que “o coisa” ruim come teu rabo. Gritava a outra! Voa, voa... Por um momento fizera parte da revoada... Até pousar o asfalto, com os olhos ainda abertos...
Para F.Machado
Replay/ ... Certa vez me disseram que eu não deveria mais contar estrelas. Silenciar o tempo. Respirar a letargia de uma filosofia budista por exemplo que contrapunha todo o resto a que durante uma vida inteira estive acostumado. Falavam que deveria ter pressa, pois havia um mote de valores que deveriam circular no curral da sala de jantar e contas e pessoas que precisam de pessoas. E mulheres que se entregam para amar e homens que amam para trair e novamente, se entregar. Uma complexidade deveras estranha mediante tantas outras atitudes imediatas a se tomar... O foco de uma real qualidade de vida se calcado no outro fosse, automaticamente, a paz de espírito preservada seria deverás interessante e profilático. Imaginar que mesmo hipoteticamente as duas da matina você poderia em qualquer espaço da cidade grande, largar seu carro e os documentos dentro como um gesto impensado, automático; sem conferir travas, passantes, guardadores, ou mesmo a polícia porque o imposto que ninguém sabe o destino certo poderia ainda não ter sido pago. Pensa só... Não é discurso babaca não, meu caro. Provado já fora, que cérebro e informações possuem lá o seu limite. E é logo ali... Células morrem pela ação dos anos, na proporção da qualidade de vida dimensionada e informações absorvidas e repartidas em trezentas e sessenta e cinco fatias de atitudes e amanhecer. Rejuvenescimento, velhice precoce, ou o retardamento do declínio e a ladeira... Da preguiça.
Amsterdam 
7 Dorival... Foi-se Dorival. Com bigode de biografia e olhos de Iemanjá. Parecia cortejar o mar da foto de uma Bahia enluarada. E vivia da "preguiça" com argumento de doutor. Ah! A necessidade do compositor de embebedar as idéias. Transgredir sociabilidades através de canções que notoriamente acabam por compor junto, costumes e vestimentas... Os movimentos. E lá, já se ia, à canoa de violão e madeira nobre. O mundo saberia dele muito antes dos adventos da computação. Seria imensa a parte de todo um século dedicada à explicação cantada do povo e suas alegorias... E um sorriso largo, mexendo os pêlos que torneavam a boca até o fim do espetáculo. E todos os filhos, e filhos dos filhos. Todos, passarinhos! Sempre honraram o sobrenome, com grande projeção. A canção! Era uma sensação de euforia harmônica colorindo poesia singela. De doce confeitado de brigadeiro, já parido gostoso, independente do resto... Sobra preciosa das horas de contemplação! Fosse à pescaria que chega, ou o barco que vai. Toda lagoa era linda e cristalina. E toda água salgada era dela. As lavadeiras e jangadas, e toda a paisagem que não saia da concha. A beleza e seus moldes de índio. Nunca deixaria de exaltar o que a vista pintava de guache. Cantava a praia como quem agradecesse cada grão. Sempre pensei nisso, quando entornava ouvido adentro seus vinis! Ele percebia o céu de todo! E parecia compor para explicar o que se deveria sentir de brisa, de ventania; da vela indo... Sinalizava o caminho que se escondeu... E matava a nossa saudade de amor antigo e fidelidade. Do chão que trocou pelo Rio de Janeiro. Da única esposa que amou até a morte. E Carmem Miranda, a portuguesa com alma brasileira, cantava Dorival... E o mundo depois repetiria Carmem... Faltava no ensejo do nome dela, criar a primeira ópera popular, com tecnologias que captem o desfazer da espuma salgada, flerte de tatuis, e passos de caranguejo... Isso combinaria... Por mais alucinada que pudesse ser a imagem, representaria bem o espírito do homem! O que era sagrado de simples para apontar... Sempre acreditei que suas letras revelavam isso, na procedência das entrelinhas... Repara só!

Moro no Jardim Botânico! Disse. – Há controvérsias: Alguns afirmam ser Lagoa. Se olhar pra cima, o sovaco direito do Cristo me aponta. Jogando o queixo para baixo se vê uma, ou melhor, duas encruzilhadas, separadas por um canal onde corre água (de novo água!). Na linha do horizonte, recortado por prédios gigantescos e longe, a paisagem parece se transformar num imenso muro de concreto com traços de um Niemeyer retilíneo... Mas o que me chama particular atenção é que na continuidade da vista, a copa das árvores parece fazer grama. Do intervalo que afasta as ruas e vielas da sacada do apartamento. Um gramado que não se pisa. Que interfere e faz da fanfarra dos automóveis alguma coisa do outro lado... Poderia a partir disso, começar imenso discurso sobre encruzilhadas e céus e Deuses e Orixás. Que nada! Imaginei um Cristo baiano rodando ao som do atabaque que dobra em contraponto ao compasso de um doce e suave canto gregoriano. Perguntar-se-á aonde se esconde a euforia por trás da música de sacristia? É fé irmão! E é sua... Mas que dá uma suave brisa de contentamento, limpeza e defumação. Isso é nosso! Orelhas também são chaminés... E aspiradores! Violão, violinos, violoncelos e cordas que não jugulam opiniões ou relacionamentos. Fios sonoros de diversas notas reproduzindo a cidade constante. Um rito ao ruído; toda hora. Tantas vezes; ouvi que dali se fez o vazio... E dele mesmo a canção. Repara... Cala o que não fala. Diz o que tu ouves (!) Isso é o nada! Mas há algo entre um suspiro e a respiração trivial. Anda um pouco mais devagar e percebe... Acriança...

E agora José? ...
FOTO / AMSTERDAM
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