segunda-feira, 13 de abril de 2009

O Mímico parte 3 // Mas não queria. No fundo sabia de si. Era um artista! Médicos fazem arte e colhem aplausos. Mas não seriam aqueles há enaltecer os anos e recordar a existência. Lamentava não ter investido nessa idéia de palcos e picadeiros, e calçadas e toda sorte de público! Iria Contrariar as expectativas da família. Mas... O que são os laços de sangue! Deus pai! Desenrolam e embolam todo o carretel das possibilidades. Quase sempre a preocupação desmedida com um futuro já resolvido, custeado, em nome da prole, torna-se o passaporte de teorias psicanalíticas e lugar garantido no divã. Tinha a plena certeza, e assinava embaixo. Prefeririam um maluco de branco, aos movimentos silenciosos, dignos de poucos. Afinal, se talento fosse coisa à toa, seria produto de supermercado ou importadoras... E arte ainda era, ali, sorte de quem não caminha... Pensava na cidade pequena, que tinha rio, pracinha e coreto. Quermesse e festa para santo padroeiro... E a boca muda, sem sorriso amarelo, tremia ao gosto da primeira lágrima salgada daquele dia. E olha que foram muitas. Talvez mais água que o rio pequeno da cidade menor ainda...