Pensassem vocês que todos daquela vila sabiam dele estariam enganados. Optara pelo isolamento por vontade própria. Em função das circunstâncias! Dizia que transformaria o surto
Depois disseram que era de uma sensibilidade ímpar capaz de enxergar o que os outros não sabiam. E falavam que entoava cânticos que acordavam rosas. Quase que cadenciadas as informações se adiantavam e velozmente eram percebidos seus efeitos...
Certo sujeito passou a caminhar todos os dias. Era negociante e acreditava que se visse aquele homem teria sorte nos negócios. Outro se banhava nas cachoeiras de baixo quando o outro mergulhava; em cima! Acreditava ser quase benta toda água que a pedra despejasse. Era um santo que nadava!... Outro não chegou até lá, mas num sonho ouviu as preces e curou o espírito de não sei qual mau pressentimento. Era notícia numa cidade quase diminuída de tão pequenininha... E passavam estrangeiros com suas versões apalavradas em banco de igreja.
Chegavam de todos os cantos versões do mesmo enredo do homem, da cura e do poder de uma fé muda, acompanhada de longe por um maltrapilho que não sabia de nada e somente achara uma forma de fugir do hospício estadual...
Tantas eram as mesmas novas que a história envelhecia na metade do caminho... Falou-se muito até que anunciada fora a morte do dito. Alvoroço a parte foram conferir os ossos. Fêmur exposto, juntas, vértebras, caixa craniana. Encontraram a cabana de madeira simples, uma cama e poucas panelas velhas. Sobre o passado alucinado ninguém lembrava mais. Não havia registros naqueles interiores e o nome agora era segredo guardado nos arquivos de Deus. Falaria com o pobre as profundas orações...
Honraram aquele homem de longe sem degustar o risco sonoro da palavra falada!... Saudaram e acreditaram num santo sem voz que ecoasse idéias!... Disseram que o turismo local hoje recebe gente de todos os lugares. A cabana fora promovida a museu e os ossos cremados e transformados em cinza que enchiam frascos pequenos e suspeitos de milagres...