quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Da Série “Causos” do Interior // A Senhorinha // Contam que a senhorinha de cabelo branco e muita idade, ainda sobe na jabuticabeira. Pequenina, torna-se imensa quando organiza uma casa. O marido perdera a lógica pelos caminhos. Lacrimejam de azul, os olhos que um deus generoso fez. Cumprimenta cada andante como quem agradece, embaralhando as idéias nas esquinas, com jeito de criança. A casa pequena como a dona e de portas sempre abertas é linda. Cumprida termina num pomar, e depois num rio sujo de restos de gente. Mas lindo de se ouvir! Entre o portão e as árvores, uma cozinha com cheiro de tempero, e algumas histórias que dividi e guardo com inimaginável carinho e nenhuma saudade... Com o portão aberto, sorri generosa a matriarca, convidando suas gerações à refeição. E vizinhos, amigos chegados ou não. Vai saber quem é o que no interior de Minas! Fato é, e verdade comprovada. Não faltavam aqueles que disputavam unzinho lugar à mesa, sucumbindo ao perfume da carne vermelha cozida... Inundando narinas de pêlos de poeira. Conversa vai, e vem, e vai. Todos os assuntos que a superfície possa alcançar. Histórias do povo, que sempre fazem rir. E as notícias da novela, ou do jornal. Absolutamente, como em todo canto dessa pátria... Mas gentil, era ela! Que se apinhava feito passarinho pra fazer geléia, ou mexia horas a panela até leite virar doce. E era doçura de flauta, linda de se ver sorrir... Nunca mais vou me esquecer daquela senhorinha. Se realmente vir a galgar todos os degraus, hei de cuidar dos meus, como quem abastece a vida. Dormir só para acordar e recomeçar, até que um sono de anjo me leve de vez... Concluindo a prosa, certo dia determinado carinha não retornara, e assim fora todos os seguintes. Perguntado sobre o suposto amigo, um dos filhos disse não saber quem era. Da mesma forma a prole concordara e a senhorinha sorria. Com sinceridade desconhecida da capital... Algumas pessoas são como flores. Pensam passar incógnitas, quando no fundo, são os estandartes de uma justiça realizada. Também não sabia nada, ela. Contudo, além da boa conversa, por alguns instantes, breves que fossem fora mãe novamente. Certas coisas que justificam uma existência inteira... E perdoam o calendário.