sexta-feira, 27 de agosto de 2010

... Quando pela primeira vez pensei em você imaginei um dia cheio de sol. Achei possível lamentar os fatos em voz alta e chamar de canção ou adormecer debaixo da chuva. E três pontinhos seriam suficientes para transmitir a mensagem sem a menor vontade de correção ou qualquer outra minúcia. Era assim... Quando pensei em você de novo questionei a existência dos meus. Porque o mundo deveria girar em torno da sua pessoa. E meu chão se abriu porque inevitáveis são nossos desejos. É individualista o raciocínio, mas depois na pluralidade das atitudes e desejo de convivência, tudo muda... Árvore em desenvolvimento ou transformação? Mas uma árvore em movimento é uma transformação!... Muda!... Ou quase... Então falamos a mesma língua. E alegria ou tristeza; ou a um, a dois, ou a três. Não importa! Precisa fomentar mudança. Instigar novos ventos... Quando pensei pela última vez você ainda aparecia com riso desconfiado de canto de boca e aquela constante análise do tempo e seus movimentos de ar. Pensei até ficar vazio, sem sopro ou respiração, ou desejo... De tê-la... Equilibrada nos ponteiros do relógio de pulso... Toda hora... Foi quando novamente imaginei outro dia cheio de sol...

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Noturnos // Tive uma noite péssima. Um sonho acordado com jeito torto e corcunda de quem carrega meio palmo de cal no lombo. Sabe-se lá onde estava, ou aonde gostaria de estar o sujeito que era eu. Sabe-se lá! Recordo um entorno acinzentado de manto calmo. Grama talvez... E um desejo de chorar em silêncio. E isso preocupava! Guardar ruídos que não se externavam pela indivisível neurose... Como se tudo fosse constituído da mais perfeita... Ordem! Ou da mais perfeita desordem! Antagônico mesmo! Desordenar a perfeição seria não atingi-la. Da mesma forma a desordem não remeterá ninguém a qualquer forma de perfeição... Não há nada que sinalize um agente complicador... Apenas a óbvia conclusão... Fato é, e isso sim, de merecido bom senso, que tive uma noite péssima, estou quase de ressaca e não me recordo de um gole sequer. Unzinho só! Palavra...

Sopro

Como um “Sopro de Vida” pode ser tão precioso. Ouso temporariamente roubar a sonoridade do título do livro de uma escritora chamada Clarisse... Parece tanta coisa que a profundidade não me aproxima. Ou se permito prefiro negar. Parece a reestruturação de interferências literárias que deságuam num raciocínio abissal. Desses dias que acabam por compor um único bloco. E a gente não sabe se aquenta o tranco... Tanto que é uma escritora cujo nome é sabido, mas não fosse isso, acho que as linhas voariam até pousar no seu colo. A impressão de que ali Deus valeu à pena. E se fez com as mãos de alguém...

sábado, 21 de agosto de 2010

Falhamos na essência motora... Estudo australiano recente indica que índios aborígenes de baixa estatura corriam aproximadamente dez quilômetros por hora a mais se comparados fossem ao jamaicano longe líneo e recordista das provas de velocidade das últimas olimpíadas... A conclusão se ateve ao fato de que os nativos daquele lugar percorriam lamaçais e possuíam baixa estatura! Outro fato interessante é que fazia parte, na época, da ritualística do macho, saltar por sobre os ombros como prova de força e virilidade. Seria qualquer coisa tipo: o outro lado da tecnologia que ao longo de décadas e em nome do conforto e da maximização do tempo apressado, ou mesmo em função de uma nova e necessária ordem...! Foram danificadas estruturas genéticas praticamente irreversíveis. Sinalizar o retorno a força muscular seria imaginar o último suspiro da era da comunicação. .. Outras formas de movimento talvez fosse mais interessante...

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Maratona Penso no maratonista Vanderlei Cordeiro e no atleta italiano que levou a medalha de ouro daquelas olimpíadas. Se tivesse humildade, e reconhecesse a interferência de um padre maluco, como prova cabal de que seria praticamente impossível parar o brasileiro. E passasse o título dourado para o nosso campeão, em pleno pódio, a revelia que fosse... Ah! Que espetacular jogada de marketing. Acho interessante o termo, antes que caia em desuso e se invente outro para definir a mesmíssima coisa. Ou até, aquela nova, que agregue funções como pretexto capitalista para fomentar desemprego. Desculpe: gerar renda... Mas se o cara. Ah! Se o cara tivesse feito isso, surgiriam entrevistas, outros interesses jornalísticos. É matéria, não? Onde estava o empresário? Fora a insegurança dele mesmo, cuja dimensão deveria ser muito maior! Seria este o perfil do nosso algoz? Mas o que é do homem o bicho não... Lembra! Não faltaram testemunhas... Tanto isso motivaria patrocínios, quanto projetaria informações sobre um alguém, que no universo poli esportivo do cidadão comum do mundo afora, é somente um italiano. Isso, porque obrigatoriamente, são içadas as bandeiras de acordo com a colocação. Por ironia o país cujo contorno por décadas – e todas que virão – será comparado a uma bota. Que pisa, anda, corre... Qual era o nosso assunto? Esse fato delirante me leva a crer na pena capital forjada pelas regras da competição. Se há regras! Voltemos a uma nova data talvez? Acionemos advogados? Pintar a cara e bater lata não agüento mais! Na boa! Não seria um atleta a bandeira viva, e suas reações o retrato de uma nação? Ou todo o planeta mera quilometragem? Ou o porre do reveillon se prolongou e ainda estou viajando? Cacete! Fala o nome dele, fala? Morreria eu, de vergonha, se fosse conterrâneo. Ah! Cavaria a cabeça no chão feito avestruz! Quanto ao padre, tratando-se de Brasil, deve estar doido com o nome amarrado nuns quaquilhões de encruzilhadas. E que um renomado colunista me perdoe, mas sob a batuta do seu particular linguajar, ousaria dizer que, enquanto isso, o meu, o seu, o nosso Vanderlei. Campeão dos pés descalços que treinava no barro batido de terra seca, sem tênis, chorava com emoção de vencedor. E danem-se as medalhas! Lágrimas derramadas em nome de um país que muito pouco – mas muito pouco mesmo – faz pelos seus. Esportistas, artistas, cidadãos... Ali não havia miséria ou tiro! Um homem, num breve instante, provocando o efeito carnaval. Pátria minha desgarrada, só falta aproveitar o chororô e afogar sua plenitude. E de quebra todo o resto. Vai nessa Vanderlei. Choramos juntos, todos nós, pelo menos naquela vez... De raiva ou orgulho, ou alegria... Sei lá... Suicídio coletivo...

... Um país q não banca seus compromissos sociais abre brechas para a exploração dos meios... Filantropia por exemplo pode ser usada para mascarar milhões; quando milhares bastarem para custear um projeto... Penso nos pastores e ovelhas e seus lugares... Que independentemente do fato de pertencer ou não a qualquer clã; manipulam a imagem em benefício do ganho maior que o investido... Depois; o quanto todos se merecem...

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Mãe // Deus presenteara minha mãe com uma miopia mega, seguida de significativa quantidade de estigmatismo. Defeito de fábrica para justificar uma peculiar leitura da vida, que simplesmente acontecia, e mais tarde viria a entender. Muitos anos depois reverteram sua doença em mais de noventa e cinco por cento. É mestre, trabalha a energia através das mãos. Acalma e observa. Músculos, comportamento, formato de ossada. Olhos de raios-X numa tradução quase Braile. Também é doutora em literatura com médias excepcionais! Lera e se formara com olhos de cego, e lentes imensas. Depois, enxergaria até demais... Embasaria de informação a prática de um universo ao qual se atiraria. Inteira! E lá se iam mais da metade de uma vida. Um invólucro recheado de altos - muito alto! - e lutas... Mas existiram anos cujas dificuldades provinham de outras histórias, falências e relacionamentos mal desfeitos com suas porções de tristeza e seqüelas. Consegui de alguma forma fugir da própria sombra, e chorar junto... Lágrimas de mãe... Sobre toda austeridade de meu pai, me defendi. Sem jamais calar o que considerava justo abortei minha quilometragem para entender o que carregava. E me protegia atrás dos versos; escritos não pagavam contas, mas valiam ouro. E me tranquei num mundo vazio para desanuviar de tudo. E... Daí! A quem poderia interessar da onde... Venho? Continuo escrevendo e permanecerei crendo que todo procedimento artístico tem sua parcela de alforria, apesar da renda também fazer parte do processo. Sou um sonhador! Fazer O que? A “esbórnia” durante uma quadra de tempo acalentara meu fardo; dela supri todo plantio. E puni minha alma durante anos como quem compromete a existência em nome de percepções e da própria tradução turva das coisas comuns. Produzi espetáculos em botequins. Inventei e vi personagens que não conhecia e olhavam acima dos óculos. Uma deselegância única, talhada em mesa de jantar, escola particular. Quantos professores daquilo que nunca quis para ninguém!... Simulando o que não desejava, observando em silêncio e aprendendo com relacionamentos errôneos, vazios. Aprendi que a essência é perfumada e vil... E percebia o que se sabia. Ninguém tira sujeira encruada em poro de burro velho. Tão pouco se ventila paisagem para quem viveu menos tempo. Estrada para andar, passar, ou desviar. Sinalizar, a certa altura tornara-se quase um assalto intelectual. São caminhos e precisavam ser pisados. Se eles realmente não sabiam o que estavam fazendo, ou, o que fazer... Perdoa... Não sabiam das mãos de minha mãe e o que era aquela energia. Aliás, pareciam não entender nada sobre assunto algum. Nem de livros!... Há certo altruísmo em desuso e, se não me engano, tão pouco fora sorteada a miopia da família. Mas ando mesmo pessimista... Achava estranho, pois tive tudo, absolutamente tudo o que aquela arrogância insistia em desfilar. Era como se pisassem um tapete vermelho que nunca existiu. Almejar na cor, o que era absolutamente remediável a textura. Lamentável! Pensava naquelas pessoas e na notícia do jornal que anunciava uma nova ordem editorial para simplificar a palavra escrita. Como se as preces emburricadas daqueles passantes fosse ouvida. Mal sabiam falar! Abastados e indigentes! Eram maltrapilhos da língua, bem vestidos, de exigência envelhecida, ultrapassada! Qualquer coisa como super-homem sem hífen e h. Imagina, meu! Acredito até que a doutora em literatura, esqueceria num hiato único toda a tradição de paz e interiorização, e sucumbiria a verborrágico e fulo discurso se visse a estampa de tal atrevimento!... Mas acontecerá... Existiam modas e termos que índios e negros carregaram até a cova. Era desrespeitar a história de cada, e somente aos fatos, se remete a língua e seus porquês. O resultado de uma matemática gramatical inteira adulterado pela nova desordem. Valham-me deuses e todos os santos. Perdoe essa turba! Não sabem da energia. Não são uns filhos da mãe... Eu sou!

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Da Série “Causos” do Interior // A Senhorinha // Contam que a senhorinha de cabelo branco e muita idade, ainda sobe na jabuticabeira. Pequenina, torna-se imensa quando organiza uma casa. O marido perdera a lógica pelos caminhos. Lacrimejam de azul, os olhos que um deus generoso fez. Cumprimenta cada andante como quem agradece, embaralhando as idéias nas esquinas, com jeito de criança. A casa pequena como a dona e de portas sempre abertas é linda. Cumprida termina num pomar, e depois num rio sujo de restos de gente. Mas lindo de se ouvir! Entre o portão e as árvores, uma cozinha com cheiro de tempero, e algumas histórias que dividi e guardo com inimaginável carinho e nenhuma saudade... Com o portão aberto, sorri generosa a matriarca, convidando suas gerações à refeição. E vizinhos, amigos chegados ou não. Vai saber quem é o que no interior de Minas! Fato é, e verdade comprovada. Não faltavam aqueles que disputavam unzinho lugar à mesa, sucumbindo ao perfume da carne vermelha cozida... Inundando narinas de pêlos de poeira. Conversa vai, e vem, e vai. Todos os assuntos que a superfície possa alcançar. Histórias do povo, que sempre fazem rir. E as notícias da novela, ou do jornal. Absolutamente, como em todo canto dessa pátria... Mas gentil, era ela! Que se apinhava feito passarinho pra fazer geléia, ou mexia horas a panela até leite virar doce. E era doçura de flauta, linda de se ver sorrir... Nunca mais vou me esquecer daquela senhorinha. Se realmente vir a galgar todos os degraus, hei de cuidar dos meus, como quem abastece a vida. Dormir só para acordar e recomeçar, até que um sono de anjo me leve de vez... Concluindo a prosa, certo dia determinado carinha não retornara, e assim fora todos os seguintes. Perguntado sobre o suposto amigo, um dos filhos disse não saber quem era. Da mesma forma a prole concordara e a senhorinha sorria. Com sinceridade desconhecida da capital... Algumas pessoas são como flores. Pensam passar incógnitas, quando no fundo, são os estandartes de uma justiça realizada. Também não sabia nada, ela. Contudo, além da boa conversa, por alguns instantes, breves que fossem fora mãe novamente. Certas coisas que justificam uma existência inteira... E perdoam o calendário.
Atendendo a pedidos postei um tx q fiz para mestre Dorival...

Navio Negreiro

E pensar que o comércio de escravos teve sua origem na África... Ao que consta, mais precisamente no Benin. Era a tentativa de pertencer ao comércio internacional e alcançar outras esferas de negócio. Tribos conquistadas sendo diluídas pelos seus colonizadores de mesma cor. Depois, passados os portais que ligavam o piso até a areia, água salgada, e finalmente o porão dos navios... Já em terras portuguesas, eram misturados em alas para que perdessem suas idéias e dialetos, ou toda expressão originária... Esqueciam-se algozes, contudo, que o talento nato e humano para adaptação, ainda mais quando sob pressão, é de incomensurável poder. E isso é histórico! Acho que poderíamos chamar de traduções oficiais do que viria a ser uma nova perspectiva social, letrada e mapeada? Não somente cantada, como o correio informal de séculos anteriores... E a cultura negra reformulada nas senzalas, mesclada em todos os cantos deste país, prenunciava suas raízes para todo o sempre, no esqueleto da memória nacional... Enquanto isso, Pierre Verger, o francês de alma baiana, que se autodenominava etnólogo e muito tempo depois trocariam a sua velha Paris pela África e, mais tarde ainda, em definitivo, o mundo por Salvador. Tornar-se-ia um Fatumbi; o que na tradução literal significa renascido através do Ifá. O jogo das previsões...

Rapidamente sobre Ifá; reza a lenda que era feiticeiro e irmão de Alá, eternamente venerado nos desertos e países Árabes.

Percebendo certa falta de identificação com a rapaziada barbada, bateu perna até chegar a território africano, onde fora muito bem recebido. Em agradecimento, ensinava o jogo das previsões, que tinha o seu nome, e colo certo... Cada burgo tinha um Fatumbi...

Era interessante, porque já naqueles tempos, objetos e mensagens eram enviados através de Verger. Cada vez que anunciada era uma nova partida. E aquela troca, quando identificada em outro continente, traduzia a prova e veracidade dos fatos contados, da existência dos parentes perdidos, e da certeza longe, que se juntava.

Depois de dias e meses... Mares... Adentro. A partir dele, souberam muitos dos seus!... Muitos anos depois. E num pensamento maior, isso era suficiente...

E registrava na sua velha máquina fotográfica analógica, o que muitos hoje consideram um dos primeiros registros visuais do que viria a ser a cultura do candomblé.

Mas... Outra surpreendente curiosidade que nos remete ao início desta historieta, é que, os que por sua vez se intitulam Tatás, na África, são descendentes diretos de traficantes de escravos. Agora, com nova e pomposa titulação. Propagadores da cultura (?)!

E calcula-se em mais de cinco milhões o número de negros que aportaram contra a própria vontade em territórios luso-brasileiros... Louvo agora aqueles que ficaram ao longo. Um sem número que nunca nessa vida poderemos precisar...

Outro dado curioso é que muitos creditam a Capiba, Verger e Jorge Amado, boa parte da projeção do que viria a ser um frenesi internacional em torno da Bahia de todos os santos. Que me perdoe S. Dorival, mas das tríades baianas, talvez esta fosse munida de particular singularidade. Isso por, além de tudo, tratar-se de um argentino, um francês e um brasileiro.

Tudo bem que Jorge Amado Jamais fora um só, e Santo Amaro da Purificação pariu boa parte da nata. Além é claro, da própria capital. Mas que o poder desta terrinha em repatriar sua gente e redescobri-la, nos confins do mundo afora, só pode ser... Divino! Acredito nisso... Você eu não sei, mas eu...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Corredor // Era um paranóico. Havia Transcendido quase todos os limites do bom senso. Caso psiquiátrico. Mas vá lá o incauto perceber! Já não dormia sem a ajuda de calmantes, e escondia no bolso superior do paletó uma pequena chave de fenda. Arma branca pensava. Naquela tarde nublada atravessara três avenidas inteiras rumo à ciclovia. Cortaria caminho e ganharia tempo. Era pontual! Olhava com freqüência para os lados respeitando o torcicolo crônico que a essa altura respondia por alcunha autorizada e nome próprio. Sapatos engraxados, terno aprumado. Acreditava poder se esconder, por trás do tecido sofisticado, anos de paranóia, aglomerada. Não era grande o sujeito, nem pequeno. Perdera os óculos quando não pôde mais conter o surto de tics. Piscava com rapidez e chacoalhava o pescoço como passista de escola. Sofria de alguma coisa que não entendia. as vezes era melhor assim. Adaptara-se a miopia e achava sexy aproximar as pálpebras com ares de japonês, para eventualmente enxergar o número da condução. Tangenciando a lagoa respirava um pouco mais aliviado. Alcançara o primeiro objetivo e a travessia havia sido normal. Nada de abordagens desagradáveis ou atropelamentos. Sentia uma estranha sensação de dever quase cumprido quando percebera movimentos constantes, rumando direto a sua direção. Apertou o passo e avançou. Precisava ser astuto. Com rabo de olho identificava a distância aproximada e tentava dessa forma manter-se fora da rota de colisão. A chave de fenda comprimida permanecia entre os dedos, no bolso. Sacada deveria num derradeiro momento; Somente... Os passos se tornavam mais largos. Sentia! O vento corria a favor e isso era bom. Ao mesmo tempo tinha a certeza de monitorar odores como um animal. Percebia uma real aproximação que não poderia acontecer. Por trás da vista falha um sexto sentido prenunciava a tragédia. Suas pernas! Contaria com elas! Fugira dele mesmo uma vida inteira e isso era muito. Poderia correr até cansar o inimigo. Tinha massa corpórea menor e seria desvantajoso o confronto direto. Subitamente seus instintos de aranha o levaram a perceber que não se tratava de um indivíduo apenas, mas uma quadrilha! Revezavam-se, trocavam de uniforme, preparavam o inevitável. Sua estratégia teria sido percebida, e se multiplicavam, aceleravam. Por vezes disparavam. A essa altura o cara já apertara o passo ignorando o solado de couro e outros detalhes. Tinha medo moderno de não acordar. Bufava, corria como quem buscava o último fio de rastro. Corria, corria... Corria. E após inúmeras voltas, sem perceber a ciclovia, suando potes de adrenalina salgada, adentrou o prédio ignorando moradores, corredores, elevadores. Morava no trigésimo andar. Esfuziante, possuidor de uma energia cósmica, transtornado, voara pelas escadas do térreo até a porta do vizinho que não estava. Após arrombá-la, de cócoras, escorou a porta e esperou clarear. Era mais seguro... Poderia ter alguém na sua casa!