terça-feira, 31 de março de 2009

O Mímico (parte 1) // Soubera daquilo quando certa manhã, atravessando à rua principal atrelado as mãos do pai viu gargalhando em silêncio absoluto o cidadão alvinegro. Derretia a maquiagem, mas não perdia o prumo. Contava sem voz os trejeitos dos outros como se até íntimo fosse. Não perdia o sorriso, e não falava. Nada, nem à toa. Mesmo os apressados se rendiam com suas sobras de moedas, sem entender direito o que tudo aquilo significava, ou mesmo o que deveria... Um contraponto de paz, de sonho, em meio ao bisonho engarrafamento de carne viva e desumana circulante. Contorcia o maxilar, provocava rugas, aproveitava o ensejo de um bocejo. E o velho, sabedor dos olhinhos de criança brilhando, explicava professoral, a cultura francesa e o palhaço mudo que gesticulava o contorno de tudo solfejando sem ruídos o que torneava a calçada, os gestos e passantes. Mímica! Finalmente! Este era nome da nobre arte... Se soubesse a profundidade que se estendia por trás daquele acaso de percepção, um sujeito bem sucedido com medo de pobreza jamais declamaria aquela história. E era bom nisso! Particular articulação... Mas fora prometido, e era tradição familiar. A pura linhagem dos mais renomados médicos de toda uma região; deveras importante. Afora um primo distante ortopedista, era quase uma maçonaria de cirurgiões. Reencarnação de cangaceiro, que retornava. Paga de outra vida. E por ela a dedicação e o tempo integral... Salvar o próximo, objetivando a vida. O princípio católico, status. Nada que diminuísse a profissão. E entre os livros espessos dos aspirantes a "profissão medical", dobrava as horas para freqüentar cursos e percursos. Em segredo, na calada. Quieto como jacaré que olha. Percebendo a ponta dos dedos, mãos, pés. Se rendendo a anatomia acompanhada de outra forma, dimensionada muitas vezes, a explicação científica dos membros. Viu o maior mímico de todos os tempos no Municipal do Rio de Janeiro quase em segredo. E chorou com a partida dele. Precisou estar triste, estranhamente triste, para poder novamente sorrir. E controlar músculos, impressionar professores, passar em provas, se dividir num só. Identificava-se por vezes com cadáveres de aulas de dissecação. Tudo o que pudesse insinuar uma notícia de expressão eram captados com antenas de inseto. Paralelamente, era formatado o homem prometido, mestre na manipulação das ferramentas delicadas, um pajé da alopatia moderna. Dono da cura, de um pomposo diploma, segundo testemunhas oculares que trajavam uniforme branco, exímio cortador de peles, tecidos e órgãos. Extirpava a descrença e quase não falhava. Orgulho nacional de uma sucessão esperada. Enfim! Haveria uma continuação...

segunda-feira, 30 de março de 2009

O Tempo parte 4 /
/ Sol e lua e fogo e água, mesmo que salgada, escorrida dos olhos de pedra daqueles que perpetuavam o descompasso. E era uma lua doce. Dona da noite que se deveria compreender! A herança progressiva de acontecimentos modernos parecia surtir efeitos contrários. A ferrugem do tempo corroído pelas suas promessas. Os homens... Foram passando meses, anos, décadas sem ponteiros.
O sol com a fúria marcial de um deus índio percebia a lua cozendo estrelas que desapareciam sucessivamente na vermelhidão de todo dia. Quando aqui noite fosse, do outro lado, não mais seria. Aos poucos – e isso não se contava - sucumbiria ao prateado lunar. Quem poderia imaginar? Tão pequena era a outra. Serena. Despertara silenciosa, o amor do maior de todos os astros. Era um sentimento quase humano e nessa história, cheia de deuses, indigno. E por motivos que jamais nos caberão! Há centenas de séculos atrás, a terra congelada provara o gosto da distração do astro rei. Um desastre, ou melhor, uma imensa transformação com óbitos gigantescos de dinossauros.
O que poderia o Tempo, senhor todo poderoso, fazer? Perdoar algozes como quem renega a própria imagem. E Isso era Deus Proteger quem bate e florescer caminhos. Tudo muito difícil para nós. Éramos muitos, e, tal qual formiga, canibalizando culturas, dicionários, bandeiras. Eram irmãos da criação e parte de um todo que se movimentava lentamente, imperceptível. Ao longo da jornada a vida passava dentro da astrologia de cada um. Alterar planetas seria ceder, ao destino que a cada um coubesse.

sexta-feira, 27 de março de 2009

HISTÓRIAS DA PÉRSIA

...Dos anos de Teerã e toda terra viajada, com orgulho dúbio, nacional, dizia; amo aquele lugar, com lágrimas daqui... Minha terra e mitologia andam naqueles desertos... Apaixonara-se por um homem ou por um país, perguntei. Não sei; respondia com os olhos de longe...

(Cultura Persa) Talvez... Pouco houvesse a creditar as narrativas deste porte, fosse quando pudesse. Perguntar-se-á o leigo. E daí? Adianto-me, caríssimo público. Um fato difere. Único; quase, um noticiário...
Corta; entram os megafones: Digam que uma mulher, proveniente da sociedade latino-americana, neta de europeus poloneses, de olhos azuis turquesa e pela alva, ama um país trancado, dividido, másculo e milenar. Farto, de uma herança arqueológica que explica uma brutal tolerância aos costumes, e a generosidade que só a (há?) história condiz... Ou conduz... Depois, faça uma pausa e diga que é o... Irã. E foram quase quinze anos passados. Desprezar a cultura persa, e o que até hoje perdura exatamente como em outras épocas de longe. E uma mulher que ama dunas e mar. E o conhecimento de toda causa e idioma. E tradições, ou; traduções (?). Parece aos olhos de um escritor-jornalista que naufragar numa tempestade de areia (!) seria não içar a possibilidade desse conhecimento? E principalmente, contribuir para desfazer mitos e citar seus verdadeiros tons.
Quantas são as cores e variações; de vermelho, verde esmeralda, azul turquesa... Um país não se faz de homens bombas senhores!... Essa frase já foi dita e na sequência um pouco da históriaPersa... Parte de onde tudo começou... Ao barco que poderia movimentar uma cultura específica, milenar; sejamos o remo. Que todos sejam bem-vindos a este universo... Contado através do amor de uma mulher, e do orgulho de ter sido parte da história daquele lugar.
O Açúcar
... Comprado em formato cônico tinha trinta centímetros de altura aproximadamente e uma base redonda de quinze. Antes de partir com arte cada pedaço doce, era imprescindível que um cozinheiro, homem, quebrasse em nacos menores, com uma machadinha e um martelo. Fundamental que coubessem nas mãos o que somente depois Nanê diminuiria em pedacinhos menores ainda cortados com o auxilio de um pequeno alicate próprio para a função; Tinham que ser quase que milimetricamente perfeitos... Durante muitos dias. Muitos... Depois, coloca-se na boca, para regar com chá, e derretê-lo. Diz que o cubo adocicado, dimensionado aos cálculos da história, só deve acabar ao término da bebida; daí ser tão importante o tamanho de cada pequena peça doce de açúcar. E aquela senhora sabia da ordem, e da paciência...
“... Amo as rosas, o perfume, e as cores, dizia. Só entende, quem ali respira... Respondi que não imaginava rosas e aridez”...
(Cultura Persa) A Senhora das Ervas
... Sua função era varrer e limpar as ervas, que seriam usadas; e manuseadas para as refeições. Praticamente fazia isso todos os dias. Eram horas para limpar adequadamente cada tipo... Sobre sua idade, nem ela mesmo sabia. Respondia pelo nome simples de Nanê. Dizia ter visto a troca de cinco reis. Calculava-se sua idade em mais de cem anos. Só na família somavam cinqüenta deles. Mas ali o tempo é outro, e suas considerações também. Cuidara dos quatro filhos da primeira esposa e dos quatro, da segunda...E o verbo empregado naquele lugar tinha o peso do conhecimento, da cultura falada, repassada; dos mais velhos aqueles que a carregarão; como toda tribo, toda reminiscência, que não foi corroída. Só entende isso país de história velha... Achava que ela dizia isso...Durante todos aqueles anos, não havia aprendido o farsi, que é o idioma oficial do Irã. Quando chegara a capital com a família, era analfabeta. Nascera possivelmente em Tabriz, ao norte; fronteira com a Turquia. Não sabia das letras. A comunicação mesclava o dialeto à língua e gestos; E era assim que organizava a casa...
(Cultura Persa) ...
Ah! Pudessem ver a alameda principal que converge ao centro de Shiraz. Do canteiro central, as laterais, somente rosas. De toda espécie e cores. Difícil imaginar tamanha grandeza... Por quem passa a impressão é de retorno! Parece uma dimensão circundando a esfera e a terra com seus grãos de pedra, e pétalas por fim, escolhidas... A sensação é que num país trancafiado, o grande espírito reservou tal privilégio a quem merecer... E principalmente, um orgulho do oriente médio em pertencer aquele lugar...
(cultura persa) Frutinhas
... Quando chegasse o outono...Cerejas doces e azedas, marmelo, romã... As cascas por vezes também tinham sua função. A da laranja, por exemplo... O intuito era a maior colheita de tudo para o preparo das geléias que seriam consumidas no inverno, ou em uma das muitas receitas de arroz.
(CULTURA PERSA) Pão e Queijo de Cabra
Durante as refeições acompanhava o pão iraniano e queijo de cabra. Numa mesa posta, tradicional, este ritual define a família e há milênios é repetido, até hoje, da mesma forma...
(CULTURA PERSA) Tâmaras
... Vinham em cachos ainda amarelas. Eram penduradas próximo à porta de entrada da cozinha para amadurecer... Proveniente de uma espécie de palmeira, os frutos levavam semanas para madurar, e durante o inverno, substituiriam o açúcar durante o chá.
( CULTURA PERSA) As ROSAS de Shiraz
...Registros revelam tratar-se de uma das mais antigas flores conhecidas pelo homem. Reza a lenda, trazida de Vênus para este planeta, tendo sido a Pérsia seu berço de fé. Pelo aroma, aparente realeza, e principalmente; para rechear o colchão do sultão... E ornamentar o sabor da culinária. Frequentemente é usada para temperar. Num dos muitos pratos tradicionais, a sopa fria, preparada a base de iogurte e pétalas, é considerado uma das iguarias ao passar do verão... E como seriam as estações...? Raramente adornavam ambientes, descansando em vasos; a exceção de ocasiões muito especiais, como casamentos... Eram despetaladas as rosas vermelhas com muito cuidado e destreza e colocadas num outro pano de algodão puro para secar... Depois, maceradas até se tornarem quase pó. Todo o ritual era praticado por pessoas que possuíam o dom daquilo que em farsi, significaria “saber fazer”; ou não serviriam para o que se destinavam... Por fim, eram guardados em frascos transparentes e hermeticamente fechados, para não perderem o aroma... E era de extrema sofisticação a utilização das rosas na gastronomia...

quinta-feira, 26 de março de 2009

O TEMPO // parte 3 //
Mudar costumes, hábitos. Gerações e gerações. É como se as necessidades não fossem indivisíveis e comuns àqueles que compartilhavam oxigênio e pisam o mesmo chão. As máquinas ruminando horas de combustível químico obedeciam às diretrizes dos que não se importavam. Moradias amontoadas. Eram latifundiários da própria cova remendando o Tempo. Novamente e sempre. Inevitável senhor de tudo. O TEMPO!
Artérias de cobre danificadas, plastificadas, remendadas pelo desejo insalubre de seus fundadores. Para uns, desprezar a matéria e tudo aquilo que não se compra era tarefa impossível. Talvez uma pequena... Maioria... Mas seriam então inabaláveis. Pensava com solidão de eremita o dono de tudo. Irmãos? Cuidariam da princesa que girava quase imóvel. Eram tantos os afazeres! Lustrar os anéis de Júpiter, o carmim de Marte e todos os lugares. Existia uma função em cada pedacinho de céu. Mas a terra não era um lugar qualquer. Todo canto, tem um canto, e toda noite uma estrela. Se não dá pra ver, fecha os olhos que aparece... // CONTINUA //

segunda-feira, 23 de março de 2009

(Para ler batendo palmas) O reggae do xote é primo, o baião irmão do afoxé. Não tem univitelino a diferença tá no pé. "Arrepare" o q determina, a rima discreta e sútil. O balanço q costura a uzura do Brasil...
O TEMPO parte 2 ... A lua mergulharia na escuridão de todas as noites, sorrindo ou grávida de todo. Por um fio, por um ovo. Dona da vista de quem quisesse perceber. Tão pequena. Menor que a própria princesa, se faria de morta e iluminaria a escuridão. Surgiria sorrindo, minguante, inteira. Um sonho lunar! O outro lado; meditação, descanso, silêncio. Um perdão internacional, intransferível, que a ninguém pertenceria. Apenas diluído no ar, sentido. O outro lado de uma moeda pesada. O sol, implacável, despertaria sua ira. Queimaria a pele dos homens e das folhas e qualquer sombra de teimosia. Se a tudo iluminava convidaria os olhos então... A reflexão; Emanando odores, evaporando água suja, e criando desertos inteiros como quem adverte a própria existência. Secaria a língua dos feitores, de suas mulheres e filhos; entendia que o perdão escondia a necessidade. Era um guerreiro, um general. Alastraria a fúria dos oceanos e as rachaduras do deserto. Secaria rios e inundaria paletós. Deveria conter esse ódio nuclear. Investimentos milionários que travestiam a própria miséria. Fortuna suficiente para fomentar a paz em qualquer parte, qualquer continente. O planeta azul geóide circundado por... Lixo! E lá se vão pagãos da alma universal. Derretendo geleiras, assoreando rios. Eram amantes da própria desordem. Mas pagariam maltrapilhos e afortunados. As sobras seriam saqueadas por quem pudesse. É como se as mãos do cangaceiro Virgulino novamente sangrassem a caatinga e escorresse seiva terra afora. Não sabiam os astronautas quão negros eram os inacessíveis buracos ou as profundezas de cada um. Sabiam apenas que a princesa era azul. A certeza caminhava sob os pés de quem estava onde se via. Via Láctea, via satélite. Contemplavam com conhecimento de causa a tela pintada por um deus artista. Chorariam dentro de suas armaduras. Pobres homens astronautas Somos nós! // CONTINUA //
A chuva q cai não foi suficiente para suar meus dias angustiados. Ou derreter minha existência de sabonete. Ou deformar desordens. Compor assuntos. Massacrar idéias maceradas por pontos de interrogação. Adormeci numa noite fria e acordei num dia ensolarado de outro frio; Atônito, alucinado; com olho de metal e sonho pesado, com imagens do garimpo de um noticiário nacional. Agora sobre o mercúrio, resta outro frasco. Esquecido sem validade, no fundo de um armário feio. No rótulo amarelado e descascado lia-se mal: mercúrio...
Cromo... E pensava sobre...

sexta-feira, 20 de março de 2009

O TEMPO // parte 1 //NOSSA HISTÓRIA GIRA EM TORNO Da TERRA QUE GIRA... Se por um lado tudo podia impossível seria conter o rumo da história. Sobre o destino? Perdera a língua na curva dos acontecimentos e agora semeia presságios e reza a oração dos justos. Onde buscam a água bebem o invólucro! Os homens como plantas parindo oxigênio provêem de rachaduras e rompem o todo louvando uma vida exagerada, exagerada, exagerada... Custe a quem custar. A terra, por quem derramara sua infinita generosidade... Parecia sombrear a paz, sem percebê-la; no escuro. Era como dormir de olhos abertos. E a terra pobrezinha, maltratada por formigas civilizadas no fundo sabia que o futuro jaz seria. O retorno. Não haveria espaço para tantos encanamentos, tantas estruturas. Era inevitável sinalizar a época das flores, do frio; casacos de lã eram confeccionados ao sopro de um outono cada vez mais tímido. O inverno, ancião egoísta, era cruel e implacável. Chegaria cada vez mais violento. Por isso era preciso ser transparente. Apontar as estações que praticamente já não eram quatro. Somente duas! O calor sertanejo não diferenciaria o perfume das flores ou o sopro do outono; ou tudo muito quente ou muito frio... A terra sabia disso. Tinha uma certeza feminina, maternal.
Há milhões de anos se partira em pedaços, retorcendo, criando veios, transformando montanhas inteiras, rompendo oceanos e água potável. Adaptava seres e formas. Era mãe, coração fácil de enganar. Porém... Há um, porém! Muito vivida aquela senhora, apesar de nova. Para o universo, milhões de anos não se estendem mais que um fim de semana trivial. Mas, ainda assim... Eram milhões de anos. E o pai desse universo velho, até então mais velho ainda, agonizava a dor dos sábios. A dor científica dos que enxergam pelas lentes do tempo. O pai do universo era o Tempo! Voavam horas descompassadas, sem asas, com pressa. Horas modernas controladas pelo rojão dos afazeres, dos fatos, das informações. Pressa! O senhor de tudo, tinha a pressa de um relógio sem ponteiros. ERA UMA VEZ O TEMPO QUE ERA O PAI DO UNIVERSO, QUE PRECISAVA ESCURECER A NOITE, ACENDER O DIA E ILUMINAR FORMIGAS QUE Andavam DE SAPATO. // CONTINUA //
Aos apreciadores da literatura de cordel segue as principais fontes sobre o estilo. No Rio de Janeiro a Livraria Graúna, na feira de são Cristóvão. A Academia Brasileira de Literatura de Cordel em Santa Teresa e a Fundação Casa de Rui Barbosa. Em Pernambuco a Feira Popular de Caruaru e na Paraíba o Espaço Cultural de João Pessoa.
Sopas “Ash” // Assim como o iogurte , nos tempos antigos,os persas eram famosos pela variedade de sopas que eram preparadas e suas origens. A palavra Persa que define cozinheiro em farsi é “ash-paz”; cuja tradução literal seria “fazedor de sopa”. Já cozinha, o local, chama-se “ash-paz-khamê”, que significaria “a casa do cozinheiro”. Isso torna-se um indicativo interessante relacionado também a origem da língua. A partir da palavra que denomina sopa, mediante a importância para a gastronomia local, outras tantas são geradas... Isto é, a tradição definindo a linguagem.

(Aos puristas de plantão peço q qualquer erro em farsi seja sinalizado. Utilize o email jmarcelo_br@yahoo.com.br. Mto obr.)

terça-feira, 17 de março de 2009

Meu Irmão // Vi meu irmão com riso gordo de quem fazia uma fazenda. Dizia com o peito rechonchudo de orgulho que era na divisa de Goiás e Bahia. Sem contratos, notas, papéis. A sociedade provinha de muito tempo. No colégio eram os melhores amigos e suas histórias testemunhas sempre tiveram. Se o pai do cara fora capa de revista e notório caloteiro, isso muito pouco importava. Eram amigos! Dividiam o mesmo time, o mesmo tempo. Aquele que jamais desfiaria. Romperiam os anos entre cada florada. A sede com telhas de barro confeccionadas nas coxas e eletricidade à base de óleo diesel. Farinha pilada com feijão derretendo na panela de pedra que descansava horas sobre um fogão de lenha. O chão seco que durante meio ano se inundava de chuva e pintava a paisagem de verde; o miado da onça no caminho. Quem não viu cobra tomando banho de sol não era dali! Enquanto tinha criança no rio o pai zelava. Ninguém sabia quando jacaré tava com fome ou sucuri saia pra passear. Contam que a maior de todas morava debaixo da ponte num tronco largo de madeira morta. Outros diziam que era lenda, mas nunca ninguém pagou pra ver. O mundo longe da TV era outro para todos nós. Menos para meu irmão que subdividia seu corpo breve líneo entre as capitais e o seu interior. Aos pés do Rio Formoso meus joelhos encostaram a terra e agradeci todas as horas atravessadas para se chegar naquele lugar. Pensei ainda que tudo fosse menor e o mundo por um breve instante existiria somente até onde a vista pudesse perceber. Se um deus passou por algum lugar... Ali era perto; // Depois veio a trovoada; o GRANDE amigo se rendera ao pai que fora capa de revista esquecendo os anos como quem ignora a própria existência. Pobre rapaz! Vendera sua alma com o bolso cheio de ouro! Não queria matar a fome ou comprar remédios. Viveria o resto dos dias olhando para baixo em nome de uma honra desconhecida, de uma ética milenar passada de pai para filho. Não bastariam esposas ou conselhos para combater tão fortes alicerces. Na capoeira era rasteira. Entre os sábios que não sabiam jogar, estratégia. Não importava. Meu irmão tombou e eu cai junto com ele, em silêncio. A vida também me pregara uma peça e abatido me esquecera de olhar para o lado. E o cara era um pouco de tudo e o amigo de sempre. Turrão mas fazia rir. Um coração largo, à toa. As coisas pareciam pequenas quando estava perto dele. Que a gramática perdoe o verbo e nomes chulos que porventura apareçam! Poucas vezes contive tanto ódio! Não a um homem somente, mas aquela conjuntura fétida de poder e possibilidade, que mutilava sonhos e criava cobras como quem finca o facão num talo de raiz. Era uma dor desumana! Dar a outra face como diria o homem santo ou cobrir de pancada como qualquer um? Louvar algozes é levantar a mão! Quem planta com a alma não deve proferir golpes. Assassinar os dias seguintes ingerindo lodo, envelhecendo células. Chorei sozinho o término grotesco da sociedade e a terra pisada e cada pé de café. Poderia afirmar com total segurança, que se sonhos virassem nuvens, teria desmanchado todo acúmulo de líquido, que meu irmão seco de tudo não conseguiria mais derramar. Quando acordei, no meio do sono ruim, senti o cheiro de grãos... Novamente me lembrei da capoeira. E do mestre dizendo que quando rico perde se muda, procura psiquiatra, tem aquela síndrome de pânico; e vocifera verborrágico sugestões grotescas para o controle da natalidade. Mas o resto. Vira três copos de cachaça, passa a mão na boca e vai tocar a vida. Aquela resolvida na labuta de todo dia. Percebi no acaso dos acontecimentos como podia um homem tornar-se imenso. Anos de dedicação que se tornaram peças de lego, enquanto buscava um desejo de sorriso e repetia com elegância; Fica tranqüilo que dia desses faço outra. Passou a mão nos olhos, pôs os meninos nas costas, pegou a mulher (salve ela!) e se encheu de ar. Fez outros negócios, içou a vela pra outros cantos, transformou paisagens. Hoje o mundo tornou a ficar pequeno. Invadiu a paulicéia e ingeriu CO2 como quem bebe vinho no gargalo. De lá pra cá, e vice versa, invertendo radares sem perder valores. Voou para longe e traduziu anseios. Conseguiu crescer a cada empreitada. Aristocracia única que faz morada no coração dos grandes. O perdão praticado na essência sem nota em diário oficial. Desprender-se! Aprendi com ele... Não sei, não, dizia. Mas é pra frente que se anda! “Tamô” junto... // (Este tx retirei do meu livro de contos. É uma homenagem ao meu irmão q não pertence mais a este lugar... E que saudade!).
A saúva // A saúva que é viúva exímia cortadeira // Leva a horta do moço e o almoço da abelha. // Porque sem folha não tem flor e sem flor não tem mel // Dona abelha chateada Dava voltas pelo céu. // Também dizia o gafanhoto Nada sobra para mim // E mordia o pé canhoto Do menino curumim. // Dona formiga se perguntava: porque ninguém fala comigo? // Se não tenho sossego também não tenho amigo! // Afinal todos nós sabemos não é mentira de macaco // que conversa de formiga é só trabalho, trabalho... E trabalho. // Resolveu a insetada procurar a cortadeira // que se defendeu zangada dando bronca na abelha. // Aprendemos desde cedo que o inverno é frio e rigoroso // depois as chuvas de verão e outro inverno de novo... // Todavia com tudo isso, aprendi uma lição // Com amigos dividimos a conversa, o chão... O pão. // E a partir deste momento esta decidido enfim // vou buscar comida longe E não tropeçar no curumim. // Confrades ilustres, há um “porém” que ninguém foge // são os desejos de cada um que fere e tanto comove. // Hoje dividimos isso depois aquilo, e aquilo outro // Concordamos, discordamos, É a natureza de todos. // Por isso sugiro em gesto solene E o peito cheio de alegria // A palavra que faltava: De –mo – cra – ci – a... //
Envelhecimento // Às vezes acho q o ser - humano envelhece para aprender a ver a vida de forma mais simples. E dimensionar pequenos movimentos ao redor, ou mesmo nas próprias juntas. Decidi que queria ser goleiro; aprender a cair para levantar. Em nome do exercício psíquico de existir, não somente moldar. Ou mesmo a glória passageira do inter-rompimento de um ataque alheio. Um subconsciente clamando na marra para aprender. A derradeira possibilidade... O impedimento de toda uma costura de ataque, que caminhou na paralela da linha de cal, pé a pé, num toque quase perfeito... Quase... Havia o último de todos. O único a pôr as mãos na bola, a divindade maior daquele momento, quase religioso. O goleiro! O preço que hei de pagar? Eu sei! Dores que prevêem a meteorologia que com certeza valerão cada segundo de memória e histórias para contar. É tão maravilhoso ver a rede balançar!? Perguntavam. Porque, ventania refresca!... Imagino ser esta a ótica do arqueiro. Por isso mesmo tento repetir. O cerne, a essência. O entretenimento em se buscar a raiz, onde tudo caminha para outro começo. Naquela hora, unicamente ali me esqueço do resto, e da vida inteira... Voando feito passarinho velho... Continuando a vida e desdenhando dela. E meu primo irmão por toda história, com sua caixa torácica dimensionada e pernas de cabrito, é o beque. O penúltimo capítulo antes do contra golpe. O último soldado. Pensamos assim! Tudo certo se o gol for um movimento inevitável. Demos o melhor de todo tempo corrido. Mas não há limites naquele momento! O corpo quente embebeda os neurônios que por hora e meia pensa ter novamente vinte anos. No dia seguinte todo mundo roxo, quebrado... Feliz.

segunda-feira, 16 de março de 2009

O HOMEM VELHO // Um homem velho acordou // E foi colher uma flor // No jardim de São Francisco // Ouviu uma voz: meu senhor // Cada estrela é uma flor e a raiz o edifício. // Porque ao invés da terra é nuvem // Por detrás do céu tem casa // Pode ser chuva o que cai // Ou poderia ser lágrima. // Depende onde a lente alcança // O que sem óculos avisto // Porque o vento é meu velho // Atrás da flor de São Francisco //

quinta-feira, 12 de março de 2009

Blanca // A vida doía. Acordar e olhar o rosto cadavérico no espelho, predizendo novamente todas as incertezas, e uma fragilidade ímpar. Tinha reza, tinha santo, profissão que não era emprego. Faltava algo! Acertar a cervical, olhar na linha de um outro prisma. Uma rama desenfreada de porquês. Como quem tentava resolver a história que passou. Remendos não arejam dias. O olhar passado, remoído, triste. Aquele que se deseja esquecer e adormece agrupado em conchinha, com os últimos fios de cabelo branco e auto-estima. Um dia disseram que ela queria me ver. Xamã paraguaia que conversava com os anjos e S. Miguel arcanjo. Sonhava em adormecer de vez no seu quinhão de terra. Mas fizera uma família aqui. Todos que se chegavam e achavam um colo. Dizia que os umbrais escureciam a alma como galhadas de arame farpado. A sombra das costas deveria estar alinhada, aquela outra que pela frente faria caminho. Como batedor que marcha com a coragem nos pés e sabe a responsabilidade dos seus apontamentos. Crê na certeza de que não mergulhar é não saber do lado escuro de um espelho de água. Aquilo que sustenta as costas e te coloca no centro, em fila indiana, compactada e firme, para qualquer percalço. O que se conhece, ou se pensa saber... Por trás do que se deveria deixar; desprender-se. E retorcido, ao sumo, transformado em energia motriz;

terça-feira, 10 de março de 2009

IOGURTE // Excessivamente consumido em todo oriente médio. Muitos cientistas atribuem a estamina a longevidade daqueles povos; além do fato de serem praticamente imunes a problemas estomacais. Vale ressaltar, no entanto, tratar-se das comunidades mais pobres do mundo. Junto à África, talvez. Seria uma insensatez dizer que a fome não é um problema naquele país... Mas disso já sabemos, e a riqueza cultural milenar, já se adaptara há tempos. Isso! Isso sim nos interessa...
Contam que o poderoso Genghis Kham viveu a base de iogurte durante longas jornadas através da Mongólia e do império Persa, quando havia escassez de alimentos para seus soldados.
FULANA // É uma criança grande, com uma boca cheia de dentes enormes. É linda! De bruços o Pão de Açúcar derreteu. Os milhões de anos sedimentados pouco valeram! A paisagem caminha quando ela anda e um olhar desavisado se esquece que qualquer coisa possa ser feita de pedra...

segunda-feira, 2 de março de 2009

Pedro Poeta // A poesia de Pedro não fala; canta. Contemporiza, Exalta. E é no bumbo q faz estrada. Onde o chão é grave e a vida ecoa. Mas a música, senhora teimosa de hiatos profundos, parece curvar-se ao mundo e pedir humilde... Passagem; Porque na poesia do moço do verso que canta. Passarinho pede licença e o texto rompe a regra. Como quem perde o caminho Para achar outra forma, ou fôrma. Não tem paciência a ciência 100 par! Era do nada, um nada de menos ainda. Só calmaria de vento abanando, página virada. Sopro q não soa, canta... Pano de pó letrado. Poeira de rabisco... Risco de poesia... Com assinatura de nome de apóstolo que perdeu a cruz e moveu a espada, no cume da santa, palavra inventada // Para P.Rocha
Fotos que ilustram o livro do poeta Omar Khayam...
... Somente 1000 exemplares ...
... Colorindo as palavras do maior poeta daquele lugar.
Contam q a cada porção do tradicional iogurte...
Servido na tigela por jarra de cobre...
Junto o vendedor recita 2 poemas...
De Omar Khayam... ATÉ HOJE...
A CULTURA PERSA